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Posted: sexta-feira, 9 de abril de 2010 by Pedro Davi in Marcadores:
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DEBATE


Pessoal, gostaríamos de levantar uma questão que poderá ou não comprovar mais uma vez os limites da interdisciplinaridade da Diplomática e Tipologia Documental.

Com o post sobre o filme "A Ilha do Medo" postado no blog do professor hoje, tivemos um grande devaneio sobre a perspectiva da aplicação da análise diplomática e sobre a conceituação de documento de arquivo (pra variar).

Lá o nosso membro oficial postou uma pergunta um tanto confusa e romântica que resumidamente temos:

A análise do contexto é critério obrigatório ou obrigatoriamente parcial para julgarmos se o documento é ou não de arquivo?

Até que ponto o contexto se confunde com a organicidade? No sentido de que a organicidade é um aspecto intrínseco ao documento de arquivo, pois é o que determina o seu posicionamento no contexto organizacional que o gerou.

Caso o contexto seja critério, ainda que de maneira genérica, ele não poderia interferir na naturalidade que é requisito pra julgar o documento como de arquivo?

Escritos feitos na linguagem natural, e não na linguagem documentária, podem de acordo com o contexto ser considerado documento de arquivo? Isso desconsideraria até que ponto a problemática com polissemia de termos e equívocos pragmáticos?

E mais importante. Caso o contexto ajude a definir a aceitação de um documento como de arquivo, como aplicar análise diplomática? Sendo que um dos aspectos que garantiram a veracidade do documento não é paupável.

Já dá um debate bom não?

Link do post inspirador no blog do professor: clique aqui

7 comentários:

  1. O Schellenberg define que um documento de arquivo é caracterizado por três questionamentos chaves: Pra que se produz o documento? Como ele é utilizado? e para que se guarda o registro? Particularmente acho esses questionamentos essenciais para se entender o que vem a ser um documento típico de arquivo. E, também dizendo de uma maneira particular, acredito que quando se menciona o contexto, estamos mencionando todos os pontos que encerram a pergunta. Quando o Pedro diz "contexto" está querendo dizer o local de produção? A relação que o registro tem com as atividades (daí a pergunta sobre a confusão com a organicidade)? ou onde e como ele é utilizado? Acho que tudo de uma só vez. Não acho que a organicidade se confunda com o contexto, mas acredito que seja uma das características que definem o que vem a ser contexto. Assim como também penso que a naturalidade é um desenrolar natural do contexto de produção do documento. É como se o contexto envolvesse a organicidade, a naturalidade e o inter-relacionamento dos registros. Note-se que essas características condizem com o conjunto de documentos. E esse conjunto vai estar inserido num contexto. E por isso o contexto é essencial para definir o documento de arquivo. Quanto ao fato do tipo de linguagem determinar o que é um documento de arquivo, acredito que esse não seja o elemento principal. Nos blogs de turmas anteriores dentro de um processovemos uma pena de galo, uma foice e um vestido. Que tipo de linguagem esses documentos encerram? É o que está em volta e não o próprio documento que fala se ele pode ou não ser considerado documento de arquivo (contexto). Eu não compreendi a última questão. Só essa. Independentemente da veracidade ou não do contexto, podemos fazer análise diplomática. Até mesmo para justificar a não veracidade. Relembrando que foi justamente com esse intuito que tivemos o surgimento da Diplomática, na nomeada “Guerra Diplomática”. Bom, isso é o que tenho pra dizer. Caso discordem, vamos debater. Boas as questões, hein? Legal mesmo. Abraços

  1. Ahá, muito obrigado por trazer essa luz e por participar.

    De fato, ficou sugerido uma relação entre contexto e organicidade, e compreendi a sua afirmação de que não se confundem, contudo, creio que é preciso diferenciar por questões epistemológicas da nossa própria área.

    Contexto, semanticamente, compreende o encadeamento de idéias de um ESCRITO (Segundo Dicionário Michaelis). Assim, sugerindo uma intersecção de causas que justifiquem a informação.

    A organicidade é uma qualidade do documento de arquivo: o princípio que pré-determina que o documento reflete a estrutura, funções e atividades da entidade acumuladora em suas relações. (Segundo Dic. Bras. de Term. Arquivística)

    A diferenciação deve ser clara porque da mesma forma que "estrutura, funções, atividades e relações" compõem obrigatoriamente critérios da organicidade, podem também compor, porém facultativamente, o contexto.

    A organicidade compreende categoricamente o que é pré-requisito para sua consideração.
    O contexto adota uma perspectiva mais ufanista, não obstante muito importante para entender a informação e pode além disso, ser um contexto que justifique a organicidade.

    O módulo II da aula de Análise da Informação, quando ministrada pelo nosso Professor Dr. Rogério Henrique, afirma que o ciclo documentário é um contexto e deve ser considerado indubitavelmente para que se consolide a análise da informação, que tem por produto a elaboração do melhor meio de recuperação da informação.

    Contudo, em um contexto que compõe todos os requisitos para a organicidade, pode haver além desses requisitos, outras características que se consideradas permitiriam: ou um melhor entendimento da informação e uma melhor maneira de recuperá-la (através da indexação ou da classificação - expressão física da organicidade); ou atrapalharia a compreensão da organicidade por trazer questões subjetivas e incertas (como a linguagem natural). A questão é: como usar o contexto como amigo? Como não confundí-lo? Como não ser seduzido por inclinações pessoais?

    Ora, quem nunca se deparou com a classificação de um documento avulso que pela informação que nele contém e pelas formalidades que o compõem seria possível deduzir sua organicidade e aplicar classificação? Mas você se questionou se esse documento realmente é o que parece? Será que o contexto em que ele foi produzido não justificaria um julgamento de mais ou menos importância?

    Pode muito bem ser uma cópia assinada, não identificada como tal, e que foi guardada por um emissor por segurança sem fazer nenhum sentido a sua informação. Da mesma forma que pode ser parte perdida de um processo importante e não está numerada. (Duas situações comuns.)

    Será que essas causas contextuais não seriam importantes, ao menos para elaboração de políticas que evitem esse tipo de situação?

    E por fim, a aplicação da análise diplomática poderia ser uma ferramenta para julgar a credibilidade do contexto? Mas que metodologia haveria para isso? Existe uma "análise diplomática do contexto"? (melhor explicada a última questão?)
    _________
    Quanto ao julgamento do documento ser ou não de arquivo, Schellenberg está certo ao estabelecer esses questionamentos como metodologia para alcançarmos a resposta. Contudo discordo de ser a única maneira. Acredito que algumas colocações do Schellenberg são diamantes que precisam de lapidação. Ora, ele é um doutrinário patriarcal de uma ciência, qual deles não se sujeitam a isso? (Não é uma critica ao Xelê, é só uma colocação não audaciosa =D)

    Eu justifico isso com outras perguntas: Qual produtor se preocupa em questionar na gênese do documento "por que está produzindo?", "Pra que será utilizado?" e "Pra que se guarda o registro?"? Como saber se isso foi considerado, nem sempre o produtor estará presente pra uma entrevista ou coisa do tipo...

    E também, a afirmação do Schellenberg se aplica ao contexto atual 100%? Se não é 100%? Quem já teve a audácia de preencher os espaços que a modernidade abriu?

    Sugestões?...

  1. Quantos questionamentos! Muito bem, Pedro. Acredito que é assim que conseguimos desenvolver nossas potencialidades.

    O contexto do documento limita as condições que levaram a sua criação. Vários procedimentos e ações inerentes a uma atividade tem como conclusão um conjunto de informações, que são únicos por causa do seu contexto produção. A naturalidade das atividades, que criam os documentos, acontecem dentro de um contexto necessário. Acredito que de outra maneira o documento de arquivo seria artificial e não natural. No tocante a organicidade, como eu citei acima esses procedimentos e ações criam vários documentos, onde um interfere e, muitas vezes, determina sua criação de outro. Então estes tornam-se partes de um conjunto interligado, ou seja, orgânico.
    Quanto ao caso de o documento ser ou não de arquivo, Duranti, coloca que os documentos de arquivo possuem as seguintes características: imparcialidade, autenticidade, naturalidade e inter-relacionamento.
    A aplicação da diplomática auxilia na caracterização e verificação da autenticidade do documento e a veracidade da informação. Qual seria a importância da tipologia? Não vamos esquecer dela não! E então, vocês acham?

    Até mais!

  1. Outra coisa. Parabéns pelo blog!
    Está muito interessante e bem recheado!

  1. É, realmente, esquecemos da tipologia. Ela se encaixa perfeitamente nessa sua explicação Flávia.
    Se a diplomática está ligada à análise do documento em si e a sua configuração interna, a tipologia irá estudar sua contextualização e organicidade. Segundo a Belloto, se o objetivo da Diplomática é a espécie documental, o da tipologia é o tipo documental, estudando a configuração que assume a espécie documental de acordo com a atividade que a gerou. Então, a tipologia entra nessa característica especificada pela Duranti: o inter-relacionamento. Podemos deduzir então que o contexto vai influenciar sim quando formos determinar se o documento é ou não de arquivo. E para isso, a análise a ser feita é a tipológica e não a diplomática?
    Dêem suas opiniões.
    Estamos muito agradecidos por suas participações no debate.

  1. É interessante notar que aqui no Brasil existe essa diferenciação entre análise diplomática e tipológica. Nos outros locais é tudo uma coisa só. Quando me refiro à análise diplomática, já estou inserindo a ideia da gênese documental, reverenciada pela tipológica. Acho que suas reflexões são bem acertadas Pedro. O grande problema da classificação de MDA's é a reconstrução do contexto de produção desses registros. Acredito que a diplomática pode auxiliar sim no desenvolvimento dessas questões. O trabalho do professor André com partidos políticos clandestinos na época da ditadura militar pode ser um exemplo disso (vc já pode acessar pelo blog). Ele "reconstruiu" o quadro de funções de um partido político tentando entender como funcionava um partido internacional na época, realizando ainda a análise tipológica da documentação. É claro que algumas coisas ficarão de fora. É uma tentativa, mas talvez a que mais se assemelhe à "realidade" (ai... é horrível usar essa palavra). A questão da retrospectiva histórica é muito importante dentro desse trabalho de organização e classificação dos documentos de MDA (vide trabalho do professor Renato. Existe um texto que fala sobre essa perspectiva naquele livro dele, do Inarelli e do Vanderlei. Talvez vc já conheça). Acontece que, na maioria dos casos, não é feito um planejamento que inclua a perspectiva da análise do contexto da época em que os documentos foram produzidos. Já somos colocados dentro dos arquivos com um plano na mão, e começamos a classificar os registros por assunto. Depois os problemas começam a vir à tona. Quanto aos questionamentos que o Xelê faz para destacar um documento de arquivo, acredito que são preocupações que devem perpassar o universo do arquivista no momento da produção, e não do produtor. É preciso que se amarre esse documento no quadro das funções da empresa/organização, ou no contexto histórico em que são produzidos (como bem lembrado por vc). Por isso o arquivista deve criar uma plataforma de trabalho que possa explicitar esses questionamentos feitos pelo Xelê. Pra finalizar o meu ponto de vista, acredito que esses questionamentos seus vão sempre aparecer. Podemos diminuir a sua crise existencial por trabalho arquivístico mais a longo prazo. Mas nós vamos sempre nos questionar se estamos agindo da maneira 100% correta. Eu fico super feliz em estar discutindo essas coisas por aqui. Não há melhor maneira de refletir do que dessa forma. Parabéns ao blog. Abraços

  1. Você falou uma expressão-chave: "somos postos nos arquivos com um plano na mão pra classificarmos por assunto". Mas da mesma forma que uma nota informativa de 3 linhas trate da morte do Presidente. Podemos ter um relatório de 300 páginas que trate detalhadamente do mesmo assunto. Classificar por classificar, os 2 dá no mesmo, mas é claro que os 2 documentos tem importâncias diferentes. Não vale a pena diferenciar isso? Por que que os nossos planos de classificação não prezam por isso.. nunca vi um que faça a distinção da maneira como foi tratada o assunto, seja numa nota ou num relatório.

    Dessa forma penso que a tipologia deveria assumir um papel mais importante para a classificação, talvez a organicidade assim fosse expressada melhor não?

    E por fim, agir 100% da maneira correta sem dúvida será um eterno questionamento para todos nós. Isso é realidade até mesmo nas ciências exatas mais consolidadas. Por isso que como arquivistas, devemos nos atualizar nas teorias e na troca de experiências, porque na nossa área uma coisa nova pode aparecer amanhã em qualquer abordagem, e nem toda novidade caberá a nossa realidade de trabalho. Padronizar isso é muito difícil porque a gente luta em trazer ordem no que corresponde a sede informacional de acordo com interesses de uma instituição. Somos muito poucos para por ordem naquilo que o mundo todo trata caoticamente: a informação.